Bolonha, Itália, 09 abr (Lusa) – A indústria portuguesa de calçado continua a ser o principal cliente das fábricas de curtumes, mas tem havido uma diversificação do destino das peles para vestuário, marroquinaria, mobiliário, indústria automóvel e aeronáutica.
O grupo Carvalhos, que fatura 20 milhões de euros e emprega 260 pessoas em duas unidades de produção, é um exemplo da estratégia de diversificação da atividade e dos segmentos de mercado, que criou a Couro Azul para se especializar na indústria automóvel e que agora se está a preparar para ‘levantar voo’.
“A indústria de aeronáutica é muito mais complicada em termos de exigência de testes e estamos neste momento preparados para entrar nesse mercado tal como no dos comboios”, revelou a Agência Lusa o diretor comercial, Nuno Carvalho, na Lineapelle, a feira internacional de pele, acessórios e componentes, em Bolonha.
Os produtos da Couro Azul – volantes, foles, assentos, painéis - equipam automóveis da Volkswagen, Seat, Skoda, Ford, Volvo, Renault, MG Rover e Saab, mas para conquistar este mercado “o grupo teve que apostar na curtimento ecológico”, um processo que imita o antigo curtimento vegetal sem crómio nem metais pesados, que deu origem à marca ‘Oak Leather’, que hoje também “tem muita procura por parte do setor do calçado”.
Esta estratégia de diversificação foi também adotada pelos curtumes Boaventura, tendo para isso investido na modernização tecnológica da empresa instalada em Alcanena. “Temos a empresa preparada tecnologicamente para ter essa abrangência, o que nos permite apostar nas indústrias que estão mais florescentes”, explicou a Lusa o diretor geral.
“Quando a indústria automóvel está mal avançamos para o calçado, que neste momento ainda é o principal cliente”, acrescentou Narciso Ferreira, referindo ainda a oferta para marroquinaria (malas, cintos) e para o mobiliário.
Ao mesmo tempo, há empresas que nascem para responder ao aumento das necessidades da indústria do calcado, que realiza uma trajetória de crescimento, alicerçada na expansão internacional. “Queremos acompanhar as necessidades das empresas do calçado, trabalhar em cooperação permanente, beneficiando dessa proximidade”, explicou o sócio gerente da Terminus, Sidónio Ribeiro da Silva.
Até a Inducol, uma das referências mundiais na pele com pêlo, designado 'dupla face', que exporta 75 por cento da produção para “todo o mundo”, está a “prestar mais atenção à indústria do calçado portuguesa que neste momento está muito forte”, admitiu Jorge Rodrigues, da empresa que trabalha com as mais importantes casas de moda e que recentemente contratou 50 pessoas para responder ao aumento das encomendas.
De acordo com o presidente da Associação Portuguesa da Indústria de Curtumes (APIC), Humberto Marques, o setor conta atualmente com 63 empresas ativas, concentradas sobretudo em Alcanena, que empregam quase 2.000 pessoas e geram um volume de negócios de 200 milhões de euros.
“Cerca de 34 por cento da produção de curtumes destina-se à exportação e o principal mercado é a Europa e a restante produção abastece sobretudo a indústria de calçado”, afirmou.