Évora, 18 abr (Lusa) – A Universidade de Évora possui um laboratório único no panorama académico português dedicado ao estudo e conservação do património, equipado com tecnologia de ponta e que funciona como uma espécie de “CSI” para a área da História.
“É um bocadinho como o CSI [a série de televisão Crime Scene Investigation]. O CSI quer saber quem morreu e como morreu. Aqui, é saber quem fez e como fez a peça ou artefacto”, explicou hoje à Agência Lusa Cristina Dias, uma das responsáveis pela estrutura laboratorial.
O HERCULES - Herança Cultural, Estudos e Salvaguarda, equipado com tecnologia de ponta, integra a Universidade de Évora e resulta de um investimento superior a dois milhões de euros.
O laboratório, que já está a funcionar, é inaugurado terça-feira, tendo as suas bases sido criadas graças a um mecanismo de financiamento (EEAGrants) proveniente da Noruega, Islândia e Liechtenstein.
A unidade reúne técnicos e especialistas em conservação e património, assim como cientistas de diversas áreas: químicos, geólogos, bioquímicos, geoquímicos, conservadores restauradores, historiadores e arqueólogos.
O HERCULES trabalha em rede com o Laboratório de Conservação e Restauro José de Figueiredo, do Instituto dos Museus e da Conservação (IMC), e com unidades de investigação de referência, nacionais de estrangeiras.
Com exceção do Laboratório José de Figueiredo, o HERCULES, realçou Cristina Dias, é o que faz estudos mais abrangentes e completos na área do património.
“Há departamentos dentro das universidades que têm estudos de conservação e restauro, em Lisboa e no Porto, mas não têm esta abrangência. Têm laboratórios que servem para aulas e investigação, mas esta é única no país enquanto unidade diferenciada”, sublinhou.
A missão é desvendar o segredo de obras de arte e de bens patrimoniais, procurando saber como e quando foram feitos, porquê e por quem e ainda como se podem preservar, com recurso “à investigação multidisciplinar e a meios analíticos sofisticados”.
“Temos uma série de equipamentos que nos permite fazer análises a diferentes tipos de materiais orgânicos, como corantes naturais, vernizes ou aglutinantes utilizados nas pinturas, e inorgânicos, por exemplo pigmentos das pinturas, barros das cerâmicas, argamassas ou a pintura mural”, enumerou Cristina Dias.
Uma “mais-valia”, não apenas para a Universidade de Évora, ao nível da investigação e do conhecimento teórico que possibilita, mas também em termos práticos, em estreita ligação com as empresas de conservação e restauro, que solicitam as realização de análises, frisou a também professora universitária.
“É importante saber quais os materiais de uma peça, para se poder utilizar uma coisa compatível na conservação e restauro”, afirmou, explicando que, muitas vezes, quando não existem “estes cuidados”, os materiais que se “põem no artefacto vão reagir com o que já lá estava”, o que acaba por causar “mais problemas” do que antes.