Lisboa, 13 mai (Lusa) – Portugal incutiu nos demais povos lusófonos a capacidade de adaptação, de plasticidade (flexibilidade), de pragmatismo, qualidades que podem ser muito importantes neste atual mundo globalizado, sobretudo se forem usadas em conjunto por estes países, disse hoje o ex-presidente do Brasil.
Fernando Henrique Cardoso falou durante a conferência “Triângulo Virtuoso: Angola, Brasil, Portugal - Uma questão estratégica fundamental para a Lusofonia”, que decorreu hoje em Lisboa.
Lembrando o académico brasileiros Gilberto Freire, Cardoso disse que “os portugueses criaram um mundo, que tem uma série de elementos em comum” e no mundo da globalização, esses elementos podem voltar a ser bastantes importantes.
O professor universitário disse que “é reconhecida, é mesmo louvada a plasticidade da cultura portuguesa, a capacidade de adaptação dos portugueses”, referiu Cardoso, acrescentando que os portugueses deixaram uma marca por onde passaram.
“Portugal incutiu em nós, povos lusófonos, esta mesma capacidade de diversificação, de aceitar o outro”, indicou.
Segundo Fernando Henrique, os povos lusófonos são mais pragmáticos e conseguem negociar melhor do que outras culturas.
“Neste mundo da globalização, é um mundo que vai requerer esta qualidade. Vai requerer que se entenda a diversidade, não adianta negá-la, e não vai aceitar mais a polarização e vai requerer, portanto, a plasticidade (flexibilidade) motivadora de uma atitude de negociação e não de rejeição em nome de princípios abstratos”, sublinhou.
De acordo com Cardoso, “este mundo global vai requerer articulações mais complexas e na medida que nós tenhamos uma identidade cultural e uma base de língua comum, pode tornar-se mais fácil, sem exagero.”
Segundo o professor, “haverá a necessidade dos países lusófonos de atuarem em comum, em várias matérias”.
“Acho que se a Europa tivesse um peso maior, este triângulo (Brasil, Angola e Portugal) ou estes hexágonos (com os demais países lusófonos) que vierem a se formar a partir da língua portuguesa terão mais vez, do que se a Europa não for capaz de se reconstituir de uma maneira sólida e estável”, sublinhou, acrescentando que o continente europeu tem de fazer frente às novas forças no mundo globalizado.
“Esta cultura representada por este triângulo (Portugal, Brasil, Angola) tem capacidades criativas. Não são palavras vagas. Nem todas as culturas têm capacidade criativa que se transfira para o plano tecnológico”, declarou, sublinhando que há muita desta criatividade nos países lusófonos.
Segundo Cardoso, o “desafio do futuro em saber como se vai equilibrar este mundo da balança de poder é saber quais serão as economias e países capazes de propor áreas novas para investimento.”
“E nós, e o nosso triângulo só simpatia ou também eficiência? Se além de ter esta simpatia, plasticidade, capacidade de ajustar-se ao mundo, ele for capaz de criar formas culturais novas que resultem em algum tipo de tecnologia ou na relação de pessoas, não tenho dúvida que esta lusofonia terá seu lugar assegurado por muitos séculos”, referiu, adiantando que para que isto seja possível basta haver políticas firmes que encaminhem para isso.