28 de maio de 2011

História: Raquel Ochoa conta a vida da "infanta rebelde" portuguesa que enfrentou o regime nazi



Lisboa, 28 mai (Lusa) – A “história de vida” de Maria Adelaide de Bragança van Uden, 99 anos, neta do Rei D. Miguel I, que enfrentou os nazis, e que vive na Caparica, é contada pela escritora Raquel Ochoa, no livro “A Infanta Rebelde”.

A infanta Maria Adelaide integrou a resistência austríaca aos nazis, esteve presa, veio viver para Portugal, onde criou a Fundação Nun’Álvares Pereira para apoio aos carenciados.

“É um exemplo de vida pela estatura moral, e esta é uma história que tinha de ser contada”, disse à Lusa Raquel Ochoa que “por acaso” se cruzou com a “dona infanta” (como é muitas vezes citada).

Referindo-se à obra, Raquel Ochoa afirmou: “É uma biografia romanceada completamente alinhada com a história que recolhi na primeira pessoa”.

A autora, vencedora em 2008 do Prémio Revelação Agustina Bessa-Luís, afirmou que “em prol do prazer pela leitura” recriou os ambientes e alguns protagonistas, tendo pontuado a narrativa com o discurso direto de Maria Adelaide de Bragança van Uden.

“Mas todos os fatos relatados são verídicos”, sublinhou.

Referindo-se à atividade de Maria Adelaide como resistente aos nazis, na Áustria, Raquel Ochoa considera que é “uma ato heróico mas quando questionada sobre a questão, Dona Maria Adelaide apenas afirma que foi uma reação natural com algo com que não concordava. Era-lhe impossível viver num mundo assim”.

“A resistência era como respirar, perante a educação que tinha tido e os ideiais que tinha. Não resistir é que era uma violência contra ela mesma. Resistir era um ato natural”, explicou a autora.

Maria Adelaide foi detida pelas tropas nazis, tendo sido salva de fuzilamento “in extremis” e após várias diligências de António Oliveira Salazar que se indignou por terem prendido uma infanta portuguesa.

A autora sublinha que a infanta “teve outros de atos heróicos” e referiu o seu trabalho “como assistente social em prol das populações desfavorecidas” na margem sul do Tejo, desenvolvido de “forma discreta”.

“Ela [Maria Adelaide] percebeu que através da descrição não era notada nem perseguida, além de por educação, não gosta de fazer alarde do que faz, há zero de gabarolice nesta família, o que é a antítese da sociedade em que vivemos”.

Esta ação social foi feita no âmbito da Fundação Nun'Álvares Pereira que se diluiu após o 25 de abril de 1974.

Referindo-se à posição da infanta ao regime que antecedeu a revolução de 1974, Raquel Ochoa afirmou que “reconheceu Salazar como quem pôs em ordem as contas do Estado, mas insurgiu-se sempre contra os métodos usados”.

Raquel Ochoa começou a trabalhar neste livro em junho de 2009 quando entrevistou pela primeira vez a neta de D. Miguel I, ainda antes de decidir candidatar-se ao prémio Revelação Agustina Bessa-Luís com o romance “A Casa-Comboio”.

“Para mim, se algum mérito tenho, foi o de ter conseguido que se abrisse comigo. A história é dela, é a vida dela, e foi uma grande vida”, argumentou.

“D. Maria Adelaide de Bragança. A Infanta Rebelde” com chancela da Oficina do Livro, tem prefácio de Duarte de Bragança, sobrinho da biografada, que a refere como “um exemplo”.