Lisboa, 07 mai (Lusa) - “Se fosse português, indignava-me com a maneira como Portugal está a ser tratado pela União Europeia”, disse à Lusa o ex-diplomata Stéphane Hessel, autor do best-seller “Indignai-vos”, que critica o papel de Durão Barroso.
Em Lisboa para o lançamento do pequeno livro, prefaciado em Portugal pelo ex-presidente da República Mário Soares, Hessel, 93 anos, mostrou-se preocupado com o rumo que a União Europeia segue, em particular sobre a atitude assumida perante a crise portuguesa.
“Quando um país como Portugal, membro da União Europeia, precisa de ser ajudado numa fase da sua história económica, sou muito severo com a forma como a União Europeia de descartou de uma parte das suas responsabilidades para o Fundo Monetário Internacional e que faça os empréstimos necessários mas exija pagamentos excessivos” - declarou .
Este é “um mau exemplo de solidariedade entre estados europeus”, na opinião de Hessel.
“Sou severo com a União, tanto mais que a considero absolutamente essencial”, disse o homem que sobreviveu aos campos de concentração nazis e que participou na escrita da Declaração Universal dos Direitos do Homem, em 1948.
Para o antigo embaixador de França nas Nações Unidas, “o nosso futuro de europeus passa pelo reforço da União, uma União com uma verdadeira política estrangeira, não apenas a senhora Ashton mas uma verdadeira política estrangeira e, sobretudo, uma grande política económica e ecológica. Neste momento, isso não está adquirido.”
Afirmando-se “inquieto” com “a prevalência das forças neo-liberais, económicas, que exigem que o estado não tenha demasiado poder e que as forças financeiras e económicas imponham a sua vontade aos estados”, Hessel defende um “Estado que domina as forças económicas e que coloque a economia ao serviço do povo”.
Mas sublinha a propósito: “Não é isso que acontece atualmente e lamento dizer que a eminente personalidade portuguesa que dirige atualmente a Comissão da União Europeia, Durão Barroso, não conduz o combate que devia ser feito pela União Europeia para obter mais liberdade perante as forças financeiras e económicas do mundo”.
Stéphane Hessel nasceu em Berlim em 1917, mas cedo foi viver para França com a família, tendo obtido a nacionalidade francesa. A origem judaica obrigou-o a abandonar o país aquando da ocupação nazi, para se juntar à Resistência liderada por De Gaulle em Inglaterra.
Em 1944, foi preso em território francês e enviado para campos de concentração nazis, de onde conseguiu evadir-se. Após o fim da guerra, iniciou uma longa carreira diplomática e representou a França junto das Nações Unidas.
Em 2010, publicou em França o pequeno livro “Indignai-vos”, cujas edições francesas já atingiram os dois milhões e que está já traduzido em 25 países.