28 de maio de 2011

Guerra Colonial: Nuno Tiago Pinto conta em livro "a história da guerra por quem a fez realmente"


Lisboa, 28 mai (Lusa) – Cinquenta anos após o início da Guerra Colonial, o jornalista Nuno Tiago Pinto reuniu em livro 50 testemunhos de ex-combatentes, para contar “a história da guerra por quem a fez realmente”.

“Dias de Coragem e de Amizade – Angola, Guiné, Moçambique: 50 histórias da Guerra Colonial” fala “das pequenas coisas, das pequenas batalhas, das pequenas histórias, das pequenas rotinas do dia a dia”, diz o autor.

O livro reúne 50 testemunhos de ex-combatentes (incluindo três enfermeiras pára-quedistas, uma delas a primeira mulher a entrar na tropa) que “estiveram na guerra em períodos diferentes, em sítios diferentes, em situações diferentes”, explica o jornalista, atualmente a trabalhar na revista Sábado.

Com prefácio de Carlos Matos Gomes e fotografias de Rafael G. Antunes (às que se juntam as cedidas pelos ex-combatentes), o livro – editado pela Esfera dos Livros e a ser lançado no dia 07 de junho – está dividido pelas três frentes da Guerra Colonial e escrito no discurso direto de quem aí combateu, humanizando a guerra.

“As pessoas estão vivas para contar o que viveram, não deviam cair no esquecimento”, até porque a guerra deixou “marcas nos próprios e nas famílias”, quem foi “deixou uma mãe, um pai, muitas vezes uma mulher, muitas vezes já filhos”, sublinha o autor.

O que mais impressionou Nuno Tiago Pinto “foi a sensação que eles [os ex-combatentes] têm de que ninguém os compreende”.

O autor confessa que não estava à espera de ver “homens rijos, supostamente”, a chorarem “desalmadamente” quando recordam a guerra. “Está tudo muito fresco, eles falam e as imagens surgem à frente deles, revivem tudo de novo”, conta.

Nuno Tiago Pinto alerta que muitos dos ex-combatentes estão a chegar aos 60/70 anos e até podem ter tido “uma vida perfeitamente normal, com mulheres e filhos e empregos estáveis”, mas, agora, já na reforma, “têm tempo livre para pensar, e está tudo a voltar ao de cima”.

Pôr 50 pessoas a falarem da guerra não foi muito difícil, embora algumas, que antes da entrevista conversavam normalmente, quando chegou a hora de contar para o gravador não conseguiram, tiveram “ataques de pânico”.

Através das associações chegou a alguns dos ex-combatentes e depois esses indicaram outros. “Houve muita gente que falou por serem os 50 anos [do início da guerra], mas não falam tudo, continuam a achar que há coisas que não se devem dizer, há aquele melindre de dizer que se matou, que se usou bombas de napalm. Usou-se, era uma guerra. Matou-se, era uma guerra”, sustenta o autor.

Nuno Tiago Pinto considera que “a História tem tratado um bocadinho mal” os ex-combatentes na Guerra Colonial. “Há a ideia feita, que não corresponde à verdade, que ou são fascistas ou salazaristas, porque têm aquela nostalgia do tempo passado em África. Isso não é verdade. Eram pessoas que, por acaso, numa altura da vida, em vez de irem para a tropa normal, foram para a guerra. Muitos delas não queriam ir, foram por obrigação, para cumprir um dever, defender o que lhes ensinaram que era Portugal”, contrapõe.

Há quem se esqueça de olhar para a Guerra Colonial “à luz do contexto histórico da época”, diz. Naquela altura, “Portugal era do Minho a Timor e uma rebelião em Angola era como se fosse uma rebelião no Ribatejo”. Além disso, a grande maioria das pessoas não questionava ideologicamente o que se passava no Portugal de 1961.

Na opinião do autor, depois do 25 de Abril “houve uma tentativa de manter estas pessoas afastadas a um canto, quietas, sossegadas, sem chatear”. Nuno Tiago Pinto defende que, “independentemente” de ideologias, “estas pessoas têm de ser bem tratadas”, já que, hoje, “os militares que vão para a Bósnia ou para Timor, se lhes acontecer alguma coisa, têm algum apoio, não são discriminados, não são postos de lado”.

Nascido depois do 25 de Abril, o autor diz que a Guerra Colonial “parece que foi apagada dos manuais escolares” e realça: “Muitas das coisas que eu agora sei sobre a Guerra Colonial aprendi nos últimos tempos, foi a fazer o livro, a ler coisas e foi, sobretudo, a falar com estes 50 homens e mulheres.”