21 de setembro de 2010

Literatura: O "Livro", a nova obra de José Luís Peixoto, uma reflexão sobre a emigração


Porto, 21 set (Lusa) – José Luís Peixoto volta aos livros, três anos depois de “Cal”, com “Livro”, uma reflexão sobre a emigração, “uma questão chave na compreensão do que é a história de Portugal e a evolução do país, nos últimos 50 anos”.

“Pela primeira vez dentro dos romances que já escrevi, comecei pelo título. Fez parte da ideia inicial e esteve presente durante todo o tempo de escrita”, contou hoje à Lusa José Luís Peixoto.

O autor não tem dúvidas sobre a particularidade da sua escolha: “Acabam por existir várias ideias na construção do romance que se dirigem para esse título, que sendo um título tão simples, acaba por ser inclusivamente original”.

Uma delas prende-se com um livro que é nomeado logo na primeira frase do romance – “A mãe pousou o livro nas mãos do filho” – um livro que vai percorrendo toda a história, “que decorre desde os anos 50 até aos nossos dias e que passa, naturalmente, por momentos marcantes da história recente de Portugal”, com especial incidência na emigração.

“Parecia-me que a emigração portuguesa para França, especificamente, mas a emigração portuguesa em geral, não tinha ainda sido tratada pela literatura portuguesa da forma como eu imaginava que merecia, tendo em conta a riqueza do tema”, justificou o prémio Saramago de 2001.

O tema não é estranho a José Luís Peixoto: “Existe uma relação pessoal com esse tema, baseada no facto dos meus pais terem emigrado para França e de eu ter crescido com essa mitologia de ouvir falar do que era a emigração e do que tinha sido a experiência deles, sem que eu nunca a tivesse vivido”.

“À medida que fui aprofundando o tema, pareceu-me que era uma questão chave na compreensão do que é a história de Portugal e a evolução do país, nos últimos 50 anos”, destacou.

Para o autor de “Cemitério dos Pianos”, a emigração congrega em si dois aspetos antagónicos: o sonho e a realidade.

“Em toda ela existe a ilusão, o sonho, um acreditar tão forte que faz deixar tudo, às vezes com grande sacrifício, e ir perseguir essa quimera”, afirmou José Luís Peixoto, enumerando as dificuldades que se colocam no concreto – o pouco apoio, a ausência de direitos e o respeito – para explicar o confronto com a realidade.

É desse confronto, sustenta, que nasce a escrita: “A escrita existe numa outra dimensão da realidade. É uma transmutação daquilo que na realidade são elementos concretos, que existem sobre uma série de regras e de lógicas que pertencem à própria realidade e que no texto existem sob a forma de palavras”.

“Tem de existir um trabalho em que se transforma uma matéria noutra matéria – é quase alquímico. Esse trabalho envolve, necessariamente, toda a abstração e efabulação que existe no sonho, mas também não tem outro referente que não seja a realidade”, salientou o escritor.

“Livro” chega às livrarias a 24 de setembro.