A restauração da monarquia em Portugal durante o Estado Novo foi travada pela divisão dos monárquicos, pelas 'muitas correntes ideológicas' a que o regime tinha de atender mas também pelo próprio Salazar, que 'não podia admitir tal coisa'.
A tese é defendida, em declarações à agência Lusa, pelo historiador português Filipe Ribeiro de Meneses, autor da obra 'Salazar', a mais recente biografia do político português António Oliveira Salazar, cuja edição portuguesa chegará às livrarias na próxima semana.
Para o investigador da University of Ireland, a tese de que foi Salazar quem comprometeu a possibilidade de restauração da monarquia é alimentada pela ideia de 'que Portugal poderia ter seguido o exemplo espanhol'.
'Em Espanha, Francisco Franco pôde -- muito lentamente, e controlando de perto o ritmo dos acontecimentos -- restaurar a monarquia. Fê-lo, porém, após a guerra civil de Espanha, durante a qual o republicanismo espanhol foi destroçado. Franco tinha apenas de gerir a oposição de certos elementos falangistas à ideia monárquica e controlar o desejo de protagonismo do herdeiro ao trono, o príncipe D. Juan', disse.
No caso de Portugal, porém, 'a situação era bem diferente'.
'O Estado Novo, saído da Ditadura Militar iniciada em 1926, continha -- como a própria Ditadura -- muitas correntes ideológicas. Os monárquicos (também eles divididos) eram uma facção importante, mas minoritária. Salazar precisava de manter a ilusão da possibilidade do regresso da monarquia, através de gestos simbólicos', referiu.
O regresso dos restos mortais de D. Manuel II e, mais tarde, de D. Miguel, a importância prestada à família de D. Duarte Nuno a partir dos Centenários de 1940 foram gestos destinados a 'garantir o apoio' da facção monárquica.
Mas Salazar 'não podia ferir directamente a opinião republicana maioritária' -- 'em Espanha o Exército era monárquico; em Portugal não o era', observou.
'Por outras palavras, a restauração da monarquia não estava ao alcance de Salazar, mesmo se a quisesse efectuar -- mas ele não podia admitir tal coisa', comentou.
Ao longo de cerca de 800 páginas, o historiador português retrata outros aspectos da vida do homem cuja figura se confunde com o próprio Estado Novo.
Da investigação, que foi lançada no final do ano passado nos Estados Unidos em primeira mão, resulta ainda a não existência da 'menor indicação de que Salazar tenha hesitado quanto ao caminho a seguir em relação ao Ultramar'.
'Houve reformas administrativas, claro está, abriram-se as colónias ao investimento estrangeiro e deu-se a criação do Espaço Económico Português: mas a palavra de ordem era resistir. Havia condições, julgou Salazar, para isso: podia-se incluir a guerra colonial no contexto da Guerra Fria, desenvolvendo-se assim um discurso de defesa do Mundo Ocidental, mesmo que contra a vontade deste', argumentou o historiador.
A 'posição de força' em que o regime estava foi, no entanto, sobrestimada por Salazar, 'ignorando as consequências de um possível (ou provável, no entender do resto do mundo) fracasso'.
O investigador português considerou ainda que Salazar se absteve de apontar um sucessor porque a escolha 'de um favorito' apontaria 'o fim da sua carreira política'.
'Mesmo assim o Estado Novo resiste, e tem estabilidade suficiente para resolver o problema da sucessão, escolhendo-se alguém tido como o mais capaz de todos os candidatos', apontou Filipe de Meneses, considerando que nenhum sucessor teria conseguido fazer evoluir um regime que perdeu a capacidade de se adaptar e 'cristalizou' - vulnerabilizando-se - com a guerra colonial.
A tese é defendida, em declarações à agência Lusa, pelo historiador português Filipe Ribeiro de Meneses, autor da obra 'Salazar', a mais recente biografia do político português António Oliveira Salazar, cuja edição portuguesa chegará às livrarias na próxima semana.
Para o investigador da University of Ireland, a tese de que foi Salazar quem comprometeu a possibilidade de restauração da monarquia é alimentada pela ideia de 'que Portugal poderia ter seguido o exemplo espanhol'.
'Em Espanha, Francisco Franco pôde -- muito lentamente, e controlando de perto o ritmo dos acontecimentos -- restaurar a monarquia. Fê-lo, porém, após a guerra civil de Espanha, durante a qual o republicanismo espanhol foi destroçado. Franco tinha apenas de gerir a oposição de certos elementos falangistas à ideia monárquica e controlar o desejo de protagonismo do herdeiro ao trono, o príncipe D. Juan', disse.
No caso de Portugal, porém, 'a situação era bem diferente'.
'O Estado Novo, saído da Ditadura Militar iniciada em 1926, continha -- como a própria Ditadura -- muitas correntes ideológicas. Os monárquicos (também eles divididos) eram uma facção importante, mas minoritária. Salazar precisava de manter a ilusão da possibilidade do regresso da monarquia, através de gestos simbólicos', referiu.
O regresso dos restos mortais de D. Manuel II e, mais tarde, de D. Miguel, a importância prestada à família de D. Duarte Nuno a partir dos Centenários de 1940 foram gestos destinados a 'garantir o apoio' da facção monárquica.
Mas Salazar 'não podia ferir directamente a opinião republicana maioritária' -- 'em Espanha o Exército era monárquico; em Portugal não o era', observou.
'Por outras palavras, a restauração da monarquia não estava ao alcance de Salazar, mesmo se a quisesse efectuar -- mas ele não podia admitir tal coisa', comentou.
Ao longo de cerca de 800 páginas, o historiador português retrata outros aspectos da vida do homem cuja figura se confunde com o próprio Estado Novo.
Da investigação, que foi lançada no final do ano passado nos Estados Unidos em primeira mão, resulta ainda a não existência da 'menor indicação de que Salazar tenha hesitado quanto ao caminho a seguir em relação ao Ultramar'.
'Houve reformas administrativas, claro está, abriram-se as colónias ao investimento estrangeiro e deu-se a criação do Espaço Económico Português: mas a palavra de ordem era resistir. Havia condições, julgou Salazar, para isso: podia-se incluir a guerra colonial no contexto da Guerra Fria, desenvolvendo-se assim um discurso de defesa do Mundo Ocidental, mesmo que contra a vontade deste', argumentou o historiador.
A 'posição de força' em que o regime estava foi, no entanto, sobrestimada por Salazar, 'ignorando as consequências de um possível (ou provável, no entender do resto do mundo) fracasso'.
O investigador português considerou ainda que Salazar se absteve de apontar um sucessor porque a escolha 'de um favorito' apontaria 'o fim da sua carreira política'.
'Mesmo assim o Estado Novo resiste, e tem estabilidade suficiente para resolver o problema da sucessão, escolhendo-se alguém tido como o mais capaz de todos os candidatos', apontou Filipe de Meneses, considerando que nenhum sucessor teria conseguido fazer evoluir um regime que perdeu a capacidade de se adaptar e 'cristalizou' - vulnerabilizando-se - com a guerra colonial.