21 de outubro de 2010

Lido no Público : Descoberto marcador específico do cancro do estômago


Uma equipa de cientistas da Universidade do Porto identificou um marcador específico na superfície das células cancerosas gástricas. A descoberta, anunciada hoje e publicada na edição online da revista britânica “Laboratory Investigation”, poderá permitir quer um diagnóstico mais eficaz, quer terapias mais direccionadas contra este cancro, que tem em Portugal a taxa mais elevada de novos casos por ano da Europa ocidental.

A descoberta diz respeito à variante de uma proteína presente na superfície de todas as células. Esta proteína (a CD44), que funciona como receptor, pode ser um ponto de ancoragem de certas substâncias. Mas de nada serviria se esse receptor fosse rigorosamente igual em todas as células, refere uma nota de imprensa. “Uma boa estratégia de diagnóstico ou de terapia é aquela que permite distinguir, com grande acuidade, uma célula que queremos atingir da outra que não queremos afectar”, diz Pedro Granja, do Instituto de Engenharia Biomédica da Universidade do Porto e coordenador do projecto.

Ora a CD44 sofre modificações subtis de célula para célula. “O que identificamos são as formas variantes que a CD44 apresenta nas células tumorais gástricas e que as distingue das células que as rodeiam, ou seja, das células gástricas normais de suporte”, diz Raquel Seruca, do Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da UP.

Este marcador pode permitir desenvolver tecnologias de diagnóstico mais eficazes para um subgrupo de cancros de estômago, que se mantêm indetectáveis com as actuais técnicas de visualização, porque as células cancerosas estão por baixo da parede gástrica. A equipa já está a criar partículas de um tamanho tão diminuto que atravessam a parede gástrica. A ideia é que essas nanopartículas (verdes fluorescentes na imagem) levem moléculas que se encaixem no marcador e, assim, denunciem as células cancerosas para o diagnóstico.

Essas mesmas partículas podem também transportar bombas terapêuticas que atinjam só as células cancerosas, sem os danos colaterais das terapias actuais. “Se conseguirmos guardar as drogas terapêuticas em minúsculas caixinhas e colocarmos nelas um destinatário, poderemos libertar no organismo essas drogas com a garantia que irão bater apenas nas portas correctas, ou seja, nas células que queremos atingir”, diz Pedro Granja. Para isso, é preciso conhecer muito bem quais são as marcas distintivas das células a atingir, para que não “incomodemos as vizinhas”.