14 de outubro de 2010

"48" de Susana de Sousa Dias, na abertura do festival Cineluso

Com dezenas de entrevistas a antigos prisioneiros da polícia do regime, a PIDE (Polícia Internacional de Defesa do Estado), em "48" Susana de Sousa Dias optou por uma montagem livre do seu material, uma montagem mais poética e de estrutura mais minimalista do que a norma tradicional do cinema directo : usou apenas a voz das entrevistas, sobrepondo-a à imagem do desfilar das fotografias tiradas pela PIDE aos seus prisioneiros - preto e branco, frontal e perfil.

Um dos momentos: o rosto de uma mulher de sorriso aberto; um estalo de resistência num lugar de sofrimento - "Nunca lhes daria o gosto de me verem com cara de sofrimento", diz uma das vozes off.

"Os anos passam, mas as fotografias permanecem inalteradas, todas no mesmo formato. Por detrás destas imagens monocromáticas e monótonas, tristes e inertes, as vozes daqueles que, em tempos, foram fotografados relembram as suas memórias, os seus medos, as suas cicatrizes, as suas prisões e o abuso físico, a tortura, humilhações e prisão", "não se trata apenas da história secreta destas imagens, mas também do confronto entre o perpetrador e a sua vítima congelado para a eternidade", lê-se no texto assinado pelo realizador e crítico de cinema Yann Lardeau (Cahiers du Cinéma) com que o filme é divulgado no site do Cinéma du Réel.

"48" é a segunda longa-metragem de Susana de Sousa Dias, depois do também premiado Natureza-Morta, realizado a partir de imagens de guerra, documentários de propaganda e fotografias de prisioneiros políticos também do Estado Novo.

Aos 48 anos, e professora do curso de Arte Multimédia da Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa, Susana de Sousa Dias é também autora da curta "Processo-Crime 141/53 - Enfermeiras do Estado Novo" (2000). Está actualmente em fase de montagem de "Luz Obscura".

(agradecimentos a Memorias do Presente)