9 de novembro de 2010

Património: Casa de Aristides de Sousa Mendes vai ter obras para não ruir


Viseu, 09 nov (Lusa) - A Casa do Passal, em Cabanas de Viriato, onde o cônsul Aristides de Sousa Mendes viveu e recebeu dezenas de refugiados, vai nas próximas semanas começar a ser alvo de uma intervenção que a impeça de ruir.

Era na casa de Cabanas de Viriato que o cônsul - que em Bordéus (França) salvou milhares de refugiados do Holocausto - costumava passar férias na companhia dos 14 filhos e da primeira esposa, Angelina, tendo aí também vivido alguns anos antes da sua morte com a segunda mulher, a francesa Andrée Cibial.

A casa encontra-se em risco de ruir e os buracos cada vez maiores no telhado e nas paredes tornam difícil perceber como seria nos seus tempos áureos.

Luís Fidalgo, administrador da Fundação Aristides de Sousa Mendes, avançou hoje à agência Lusa que o Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico (IGESPAR) já deu autorização para que seja feita “a intervenção de suspensão e de preservação” do edifício.

“Será colocada uma cobertura autoportante para preservar o edifício das chuvas e serão cintadas as paredes, para evitar que caiam”, explicou.

O processo já deu entrada na Câmara Municipal de Carregal do Sal “e deverá ser despachado em poucos dias, podendo as obras começar de imediato”, disse o também vice-presidente da autarquia.

Segundo Luís Fidalgo, esta intervenção será “quase inteiramente feita por um mecenas”.

A Casa do Passal foi classificada Monumento Nacional em 2005 o que, segundo Luís Fidalgo, obrigou a esperar pela autorização do IGESPAR para a realizar.

No entanto, a Fundação Aristides de Sousa Mendes não tem conseguido ter os benefícios fiscais decorrentes desta classificação, pagando anualmente cerca de 400 euros de Imposto Municipal sobre Imóveis (IMI).

“Fui às Finanças pedir isenção, mas disseram-me que não a podiam dar, porque apesar de a casa ser sido classificada como Monumento Nacional, com despacho homologado, a verdade é que não houve publicação em Diário da República”, contou.

Luís Fidalgo disse temer que, “atendendo à intenção do Governo de alterar o reconhecimento dos monumentos nacionais”, a Casa do Passal possa ainda vir a perder essa classificação.

Recentemente, após uma visita à Casa do Passal no âmbito das jornadas parlamentares realizadas em Viseu, deputadas do BE questionaram o Ministério da Cultura se a publicação em Diário da República será feita “antes de 31 de dezembro, de modo a prevenir a caducidade do processo e consequente perda de proteção legal”.

Depois de vários bloqueios no que respeita ao projeto de requalificação da Casa do Passal da responsabilidade do Ministério da Cultura, a fundação não pretende ficar de braços cruzados.

“Estamos a articular no sentido de avançar com um projeto fora desse âmbito. Já há duas ou três possibilidades”, referiu Luís Fidalgo.

O objetivo é transformar a Casa do Passal num espaço que dê a conhecer a importância do cônsul português na história e os valores que ele representa.