Nos últimos cinco anos 22 544 crianças receberam o apelido materno. Afonso Miguel Loja Vaz e Pedro Nuno Vaz Loja são iguais, menos no nome. Os dois gémeos recém- -nascidos têm os apelidos trocados. O Afonso tem o do pai em último lugar e Pedro o da mãe. Uma opção que tem vindo a conquistar adeptos, mostram os números do Instituto dos Registos e Notariado.
Como Pedro, há mais 3036 bebés, dos 97 255 registados em 2010, que têm no nome o último apelido da mãe, representando já 3% dos registos. Se somarmos os últimos cinco anos são 22 544 as crianças registadas desta forma.
Em Portugal, a escolha da ordem dos apelidos cabe unicamente aos pais, ao contrário de países como a Espanha em que a lei dá preferência ao apelido do pai (ver caixa ao lado). Por cá, a maior prevalência do nome do pai deve-se unicamente à tradição. O que Carla Loja quis contrariar. "Desde pequenina que queria pôr o meu apelido a um dos meus filhos e até já tinha combinado que o primeiro teria o apelido do pai e o segundo o meu. Como tive gémeos arrumei já este assunto", conta ao DN a a mãe.
Esta opção foi feita "de modo a que o meu nome não acabasse. Como o único irmão homem que tenho não pensa em ter filhos se não tomasse esta decisão o meu apelido acabava", refere. O desejo de que o nome materno não desapareça é o mais frequente nestes casos, considera a socióloga Ana Reis Jorge.
A especialista em questões de género e família da Universidade do Minho acrescenta, no entanto, que este não será o único motivo. "A escolha do apelido pode também estar relacionado com o prestígio, nos casos em que o nome da mãe possa estar mais associado a esta dimensão."
Até porque, para Ana Reis Jorge "não são todas as mães a ter esta atitude". Embora reconheça "uma maior paridade das relações em que as mulheres têm cada vez mais uma palavra a dizer e são ouvidas".
Ainda assim, existem entraves para uma maior dimensão deste fenómeno. "A maior parte das pessoas nem sabe que se pode pôr o nome da mãe em último lugar e por isso nem colocam essa hipótese", defende a socióloga.
Apesar dos números mostrarem uma realidade crescente, Ana Reis Jorge acredita que "ainda há muito a fazer pela igualdade das relações". Isto porque, "mesmo quando a mãe pensa em dar continuidade ao nome, o seu último apelido é ainda o da linha do seu pai".
Além disso apelido da mãe acaba por ser dado ao segundo filho e o do pai continua a ser para o primeiro, logo se não houver dois filhos o apelido do pai continua a prevalecer, conclui.
De facto era esta a opção de Carla Loja, mas como teve gémeos resolveu a questão logo com os primeiros filhos. Carla não parece incomodada por os dois irmãos iguais terem nomes diferentes. "Vai ser um bocadinho estranho mas vai ser também a individualidade de cada um", defende a mãe.