Lisboa, 06 nov (Lusa) - O documentário “48”, de Susana de Sousa Dias, venceu o Prémio Opus Bonum para Melhor Documentário Internacional no Festival Internacional do Filme Documentário de Jihlava, na República Checa, disse a autora à Lusa.
“No final houve um único filme cujas imagens me marcaram mais profundamente do que os outros. Todas as imagens neste filme foram feitas por um criminoso vestindo um uniforme da polícia, selecionadas a partir dos arquivos secretos de detenção da polícia de Portugal”, refere uma nota do júri em que justifica a decisão do prémio atribuído na República Checa.
E acrescenta: “A cineasta procura por sobreviventes, que contam histórias simples mas complicadas de tortura e mutilação, e de sobrevivência. Por outras palavras, eles mostram o custo de ter um rosto, o custo de ver uma cara como esta”.
“48” é um documentário sobre a tortura no Estado Novo em Portugal.
O último prémio conquistado pelo documentário foi o FIPRESCI, atribuído pela Federação Internacional da Imprensa Cinematográfica, no Festival Internacional do Documentário e Cinema de Animação de Leipzig, na Alemanha, que decorreu de 18 a 24 de outubro último.
Além daqueles galardões, “48” já foi contemplado com o Grande Prémio do Cinema du Réel, em França, e vai competir noutros festivais internacionais, nomeadamente em Turim (Itália), Sarajevo (Bósnia e Herzegovina) , Istambul (Turquia), Buenos Aires (Argentina), Bogotá (Colómbia), Belo Horizonte (Brasil), Milão (Itália) e Leeds (Reino Unido).
Realizadora de “Processo-crime 141/53 – Enfermeiras no Estado Novo” (2000) e “Natureza Morta” (2005), Susana de Sousa Dias voltou ao período do Estado Novo em “48” para falar dos antigos prisioneiros da PIDE, polícia política dos regimes de Salazar e Caetano.
O documentário integra testemunhos de entrevistas realizadas pela realizadora, sobrepostos às imagens a preto e branco tiradas na época por agentes da PIDE às pessoas que foram presas e torturadas.
Com 48 anos, a realizadora – que espera estrear “48” nas salas portuguesas até ao fim deste ano ou em 2011 - encontra-se a realizar o documentário “Luz Obscura” e está a trabalhar em “Stillleben”, uma instalação em três ecrãs.