Lisboa, 27 jun (Lusa) - O realizador Rui Simões, autor de documentários sobre o Estado Novo e a revolução de abril, está a preparar um filme de ficção sobre Annie Silva Pais, a filha do último diretor da PIDE, Fernando Silva Pais.
"É um filme sobre o fim do fascismo e do comunismo. Annie serve de veículo para abordar essa temática e é uma personagem forte", disse Rui Simões à agência Lusa.
"Me gusta el Che" - assim se chamará o filme - é um projeto que Rui Simões tem em carteira há algum tempo, um primeiro filme de ficção para um realizador que, aos 67 anos, só tem documentários na filmografia.
Para o filme, que terá parte da rodagem em Cuba, Rui Simões inspirou-se em diversos documentos, incluindo o livro "A Filha Rebelde", de Valdemar Cruz e José Pedro Castanheira, que deu origem a uma peça de teatro, homónima, e que estão agora a motivar um processo em tribunal.
O processo foi movido por familiares de Silva Pais, o último diretor da PIDE que é mencionado no livro e na peça de teatro, embora ambos sejam focados em Annie Silva Pais.
Filha única de Fernando Silva Pais, o ex-diretor da PIDE, Annie Silva Pais abandonou a família e o país em 1965, aos 30 anos, e foi viver para Havana no início da Revolução Cubana.
Annie Silva Pais apaixonou-se pela revolta e por Che Guevara, tendo-se separado do marido e aderido aos ideais do movimento armado que derrubou o regime ditatorial de Fulgencio Batista em 1959.
Personagem rebelde e fascinante, Annie Silva Pais será o mote para Rui Simões voltar a abordar um período que marcou o seu cinema no começo da carreira.
Em 2009 Rui Simões reeditou dois filmes-chave de todo o seu percurso no cinema, como admitiu à época à agência Lusa: "Deus Pátria Autoridade" e "Bom povo português".
São dois documentários feitos nos anos 1970 sobre o Estado Novo e a revolução de Abril, feitos no calor de um novo tempo político e social no país, quando Rui Simões tinha acabado de chegar do exílio.
"Deus Pátria Autoridade", feito em 1975, aborda, de uma forma mais experimental, os 48 anos do regime de Salazar até ao 25 de Abril de 1974.
Já "Bom povo português", estreado em 1980, é um documentário que descreve a situação política e social portuguesa entre 25 de Abril de 1974 e 25 de Novembro de 1975, testemunho de um tempo conturbado de mudança.
Desde então, no currículo tem apenas com documentários, mas Rui Simões acalenta há muitos anos a realização de um filme de ficção.
Atualmente aguarda os resultados dos concurso de apoio do Instituto do Cinema e Audiovisual, no valor de 500 mil euros, para conseguir concretizar o projeto "Me gusta el Che".