8 de junho de 2011

10 de Junho: Aos 84 anos, pintor e ceramista Manuel Cargaleiro continua a trabalhar "todos os dias"

Castelo Branco, 08 jun (Lusa) - Aos 84 anos de idade, o pintor e ceramista Manuel Cargaleiro afirmou hoje que continua a trabalhar “todos os dias”, revelando que só se sente bem nessa rotina artística diária.

O Presidente da República, Cavaco Silva, inaugura na quinta-feira, em Castelo Branco, o Museu Cargaleiro, dedicado ao trabalho e recolha do artista beirão em que o município decidiu investir para acolher.

Uma inauguração, integrada nas comemorações do Dia de Portugal, que deixa o autor “muito contente” por “finalmente, aos 84 anos, ver este trabalho e coleções, tudo conservado e guardado”.

A região italiana de Vietri sul Maré inaugurou-lhe um museu em Salerno, em 2004, e o artista continua a trabalhar regularmente em França, depois de ter vivido vários anos em Paris.

Assina diversos painéis cerâmicos (azulejaria) de grandes dimensões em edifícios públicos, tendo sido escolhido para decorador da estação de metropolitano Champs-Elysées Clemenceau, em Paris.

Mas é em Portugal, especialmente na Beira Baixa que o viu nascer (em Vila Velha de Ródão), que a inauguração o deixa feliz.

No novo museu são acolhidas coleções “iniciadas há mais de 60 anos, pelo que é uma felicidade ver isto”, sublinhou à Agência Lusa.

Cargaleiro só vislumbrou o espaço menos de um dia antes da inauguração e garante que “não é um museu de um artista. É um museu didático onde estão muitas coleções, onde já estão inventariadas mais de seis mil peças e há muito mais por inventariar”.

São obras de arte da sua autoria e outras que adquiriu ao longo dos anos, que ocupam diferentes pisos do novo espaço – havendo muitas outras que aguardam por catalogação para serem expostas, explicou.

Segundo o autor, também haverá “coleções relacionadas com a cerâmica portuguesa e europeia, para que se possam comparar”. Cargaleiro considera-a “um género artístico português que é pouco reconhecido e defendido”.

Uma das coleções diz respeito a “pratos ratinho” desde o século XVIII, loiça popular que as famílias beirãs espalharam pelo Alentejo quando sazonalmente ali faziam trabalhos agrícolas: “não há um prato igual”, garante.

Por outro lado, haverá “outro género de coleções, relacionadas com têxteis e pinturas, nacionais e internacionais”, para além de uma coleção “de mais de dois mil livros de arte” que espera cativem os jovens.

O cenário de crise não intimida o artista que já viveu “muitas crises, aqui e no estrangeiro”, que lhe permitem estabelecer um paralelo: “A nossa crise não é tão grave como a situação que os franceses atravessaram com a II Guerra Mundial. E veja-se como evolui Paris”.

Por isso, garante que “não é a brincar ou no café que se encontra a solução [para a crise]: é a trabalhar”.

“Eu posso estar no café muito inspirado, mas se não estiver com pincéis na mão, não faço nada. Eu acho que a solução para esta crise esta numa palavra: trabalhar. É preciso que todos os portugueses passem a trabalhar”.

Pela sua parte, garante que ainda hoje trabalha para “acrescentar algo” à sua obra.