Lisboa, 15 jun (Lusa) - Esta semana estreiam-se nos cinemas dois filmes portugueses que abordam questões da sociedade portuguesa, do passado e do presente: a guerra colonial vista pelas mulheres e a entrada de estrangeiros em Portugal.
"Quem vai à guerra", de Marta Pessoa, que passou no último festival IndieLisboa, é um documentário sobre a guerra colonial, visto numa perspetiva que nem sempre é tida em conta: a das mulheres.
Porque a guerra colonial não pertence "exclusivamente aos ex-combatentes", e porque deixou marcas em quem foi e em quem ficou, Marta Pessoa quis dar-lhes voz.
"As mulheres portuguesas não falam. Não há registos femininos. O Estado Novo pior ainda, não houve pior momento para a mulher do que o período da ditadura", afirmou a realizadora em entrevista à Lusa.
Cinquenta anos após o início da guerra, Marta Pessoa acredita que "não se fez o luto, há muitos enigmas no pós-25 de Abril, não só da descolonização, mas da forma como os ex-combatentes foram tratados, ou não foram tratados, ainda há muita mágoa".
Na quinta-feira estreia-se também "Viagem a Portugal", primeira longa-metragem de ficção do realizador Sérgio Tréfaut, conhecido sobretudo na área do documentário.
O filme, assumidamente comprometido com a realidade, como disse à Lusa, é sobre a entrada de estrangeiros em Portugal e a forma como estes são tratados nos aeroportos.
A história, protagonizada por Maria de Medeiros, baseada em factos reais, sobre uma professora ucraniana que em 1998 tentou entrar em Portugal para se encontrar com o marido zairense.
O realizador quis fazer um filme sobre "os interrogatórios que ocorrem diariamente nos aeroportos, que são, no caso português, completamente secretos".
"Acho fundamental que as instâncias de poder sejam questionadas", defendeu.
E se, por um lado, “há um perpétuo abuso das instâncias de poder, que são impunes, fazem o que querem sem que ninguém as critique”, por outro, a sociedade civil em Portugal é "cega, surda e muda", criticou.
Em complemento à estreia do filme, Sérgio Tréfaut e várias associações de imigrantes lançaram na internet a Plataforma Direitos, para recolha de depoimentos de pessoas que tenham passado por interrogatórios, detenções e expulsões nos aeroportos.