Lisboa, 19 fev (Lusa) – A cantora Cristina Branco afirma que está a gostar mais de fado e, pela primeira vez, gravou melodias tradicionais como o fado Súplica e o Menor do Porto, no novo álbum a editar dia 28.
“Cada vez gosto mais de cantar fado. Cada vez tem mais a ver comigo. Estou a descobrir mais coisas quando canto”, disse a intérprete à Lusa.
A “paixão” guiou a construção do novo álbum intitulado “Não Há Só Tangos em Paris”, que procura ser “um ponto de interação entre o fado e o tango”, tendo como cenário Paris.
“A paixão e a sensualidade que sobrevivem naturalmente no fado e no tango foram o mote do álbum”, afirmou a cantora.
“Este é um disco de paixão e muito latino, como um navio que saísse de Buenos Aires, passasse por Lisboa, aportasse em Marselha, e o fado e o tango se encontrassem em Paris”, referiu.
Num total de 16 temas, neste novo disco ao lado de canções de Jacques Brel (“Les Désespérés”) e temas em espanhol, um deles uma versão do bolero de Maria João e Mário Laginha, “Um Amor”, Cristina Branco gravou também o tema cubano “Dos Gardénias”, que já canta há cerca de um ano nos espetáculos, e fados tradicionais.
“Continuo a não ser fadista porque as pessoas que cantam fado e que são de facto os fadistas podem sentir-se melindrados. Sinto-me até lisonjeada quando dizem que sou fadista”, disse Cristina Branco.
Entre os fados tradicionais a cantora assume que tinha há muito a vontade de cantar o Fado Súplica de Armando Machado e para o qual contou com uma letra Manuela de Freitas, “Se não chovesse tanto, meu amor”.
“Eu gosto imenso do Súplica, há nele um mistério que nem sempre encontramos no fado. Quando fui ter com a Manuela de Freitas para me escrever um tango, falando do contexto do disco, ela disse que tinha umas letras com a métrica adequada para o Súplica, e gravei”, contou.
Outra melodia escolhida foi o Fado Menor do Porto, de José Joaquim Cavalheiro Júnior, por indicação de Carlos do Carmo, que Cristina Branco qualificou como “uma instituição do fado”.
A cantora questionou o fadista sobre qual o fado tradicional que melhor se adequaria à sua voz e Carlos do Carmo respondeu prontamente: o Menor do Porto. Surgiu assim “Não é desgraça ser pobre”, com quadras de Norberto Araújo e João Black.
A direção musical, tal como em anteriores trabalhos, é de Ricardo Dias, integrando agora o grupo de acompanhantes o viola Carlos Manuel Proença, com quem gravara o álbum de estreia.
Cristina Branco afirma que “o grupo [músicos e a cantora] é uma oficina criativa”, razão pela qual “o disco reflete o trabalho de uma equipa, que contribui com ideias”.
Do elenco de autores alguns reincidem, de discos anteriores, entre eles Vasco Graça Moura, com quem a intérprete afirmou ter “uma relação onde não se fala de política e apenas de livros, autores e música”.
“Não Há Só Tangos em Paris” é editado pela Universal Music e contou com a colaboração dos músicos Bernardo Couto (guitarra portuguesa), Bernardo Moreira (contrabaixo), Carlos Manuel Proença (viola), João Paulo Esteves da Silva (piano), Ricardo Dias (acordeão) , Ana Cláudia Serrão, André Ferreira, Carlos Gomes e Marco Pereira (violoncelos), Jorge Reis (saxofone) e Lars Arens (trombone). O álbum é apresentado dia 31 de Março no S. Luiz, em Lisboa.