Nova Iorque, 12 fev (Lusa) – O guitarrista e compositor Pedro da Silva vai tocar flamenco e guitarra portuguesa no Museu de Arte Moderna, a propósito da nova exposição de Picasso, depois de os curadores terem apreciado os paralelos entre ambos, artísticos e ibéricos.
“Fizeram um paralelo entre a minha visão das guitarras e a visão de Picasso e os temas espanhóis que ele usava”, disse à Lusa Pedro da Silva, radicado há 15 anos em Nova Iorque, um dos músicos convidados para atuar em concertos à margem da exposição “Picasso: Guitarras 1912-1914”, que abre no MoMA no domingo.
“É uma coisa parecida: estou fora do meu país e a inspirar-me nele e a levar a técnica da guitarra portuguesa e o género de musica que se escreve para além do normal”, relata o músico de 34 anos, que atua no próximo dia 23.
A primeira metade do programa será em guitarra clássica e a segunda em guitarra portuguesa, adiantou à Lusa Pedro da Silva, que é também professor de composição na New York University.
Na apresentação da exposição, o MoMA descreve-o como um músico “eclético e versátil, que compõe em praticamente qualquer estilo (clássica contemporânea, étnica, filme, rock, jazz e eletrónica), toca 18 instrumentos” e apresenta “intrincadas composições de flamenco e guitarra portuguesa.
Depois de ter vivido tocando apenas dois fados até maio do ano passado, o músico tem vindo a dedicar-se crescentemente ao fado no último ano, e, juntamente com a jovem fadista Nathalie Pires, é presença regular no restaurante Pão às quartas feiras, que apelida de “única casa de fados de Nova Iorque”.
Mas foi uma atuação na conhecida sala de espetáculos nova-iorquina “Le Poisson Rouge”, em que interpretou uma peça escrita pela mulher, a argentina Lucia Caruso, que motivou o convite para a primeira colaboração com o MoMA.
“A minha mulher está apaixonada por Portugal e escreveu uma peça de 11 minutos para coro, orquestra de câmara e guitarra portuguesa, baseada num excerto dos Lusíadas que fala sobre Sintra”, afirma Pedro da Silva.
“Estamos sempre a tentar fazer que a guitarra portuguesa seja conhecida no mundo”, adianta o músico português, que criou com a mulher uma orquestra de câmara de 12 a 25 elementos, Manhattan Camerata.
O músico elege entre as suas principais referências na música portuguesa Carlos Paredes – “número um” – e guitarristas de fado contemporâneos como José Manuel Neto, Custódio Castelo, Pedro Caldeira Cabral e Ricardo Rocha.
Apesar da ligação à música portuguesa, Silva nasceu nos Estados Unidos, onde o pai diplomata – Francisco Henriques da Silva – estava colocado, e só viveu quatro anos e meio em Portugal, que hoje visita pelo menos uma vez por ano.
“Mas normalmente digo que sou de Lisboa. Toda a minha vida sempre foi a base. E os meus pais sempre obrigaram que eu e a minha irmã falássemos português entre os dois. Graças a isso, sinto-me identificado com o país”, adianta.
Doutorado em composição pela NYU, Pedro da Silva foi convidado a integrar o corpo docente da universidade, e foi ganhando raízes numa cidade onde “há musica todo o tempo”.
“Só ópera há duas grandes todos os dias, exceto ao domingo, a 20 metros uma da outra, e estão sempre cheias com milhares e milhares de pessoas. É absolutamente incrível. Só numa cidade como esta se encontram oportunidades assim”, afirma.