Nova Iorque, 18 fev (Lusa) – É aos cuidados de uma jovem portuguesa, Susana Caldeira, que estão os mais de 5.000 instrumentos musicais raros da coleção do Metropolitan Museum of Art de Nova Iorque, de cujos “segredos” diz ser detentora.
A portuguesa de 37 anos chegou a Nova Iorque em 2008, depois de passagens pelo Museu da Música e de criar o Museu do Curtume (Alcanena), e está por detrás da mais recente exposição do Met – “Guitar Heroes” (“Heróis da Guitarra”), com instrumentos de três lendários construtores de origem italiana.
“Trabalhei particularmente em três instrumentos do Met: um bandolim de 1782, uma guitarra de pequeno tamanho e uma lira-guitarra, da primeira década do Século XIX, que estavam há muitas décadas em armazém”, disse à Lusa.
“O bandolim foi o instrumento com que passei mais tempo. Foram feitos muitos elementos em falta, em tartaruga, madrepérola, metal, madeira. Senti um vazio grande quando deixou o laboratório. Foi estranho, foram muitos meses de trabalho”, adiantou.
Além da análise dos instrumentos para a exposição, patente entre fevereiro e julho, Caldeira participou na escolha de materiais para a exposição, determinar as necessidades de temperatura, humidade, luz e tipos de suporte para cada instrumento.
“Revelam uma grande habilidade técnica, um excelente domínio de materiais, uma continuidade histórica. É tudo perfeito para a sua época e contexto. As estruturas suficientemente robustas para suportar a tensão das cordas, o uso. Agradáveis aos olhos. Perfeitos ao ouvido. Os instrumentos musicais são das obras de arte mais completas”, afirma.
Natural de Alcanena, Santarém, Susana Caldeira era aluna de bacharelato na Escola Superior de Conservação e Restauro de Lisboa, quando um professor, Pedro Cancela de Abreu, a levou em 1994 à inauguração do Museu da Música, onde conheceu a diretora.
“Foi-me mostrada a coleção de cravos, clavicórdios e pianos Portugueses do Século XVIII. Foi amor à primeira vista”, afirma.
A paixão pelos instrumentos de tecla levou-a aos Estados Unidos, para um estágio no National Music Museum, no Dakota do Sul, e acabou por ser convidada a fazer o Mestrado em História de Instrumentos Musicais, sob a orientação de John Koster.
O regresso a Portugal dá-se em 2000, mas ao fim de pouco tempo concluiu que “não estava a poder fazer o trabalho em que acreditava”.
Em 2003 regressou à terra natal para, a convite da Câmara Municipal de Alcanena, começar o projeto do Museu do Curtume, de raiz.
“Depois já não podia aprender mais, e também ganhava só 640 euros. Resolvi sair por uns tempos, sem vencimento. Gostava de voltar a estudar ou dedicar-me novamente aos instrumentos musicais. Surgiu a vaga no Met e concorri”, diz.
Iniciou as novas funções em fevereiro de 2008, e hoje é a única conservadora de instrumentos musicais do famosos museua nova-iorquino.
“Tenho cerca de 5000 instrumentos para cuidar, conto com a colaboração de especialistas nas mais variadas áreas, da conservação e da música. Este diálogo é essencial, numa área com materiais tão diversos e objetos em que nada está ao acaso”, salienta.
Hoje, diz ter aprendido que o papel do conservador-restaurador é mais vasto, por ter ”acesso ao que mais apaixona as pessoas, os segredos escondidos por estas obras de arte”.
“Saber levar essa informação ao público é um dos segredos de manter vivas as coleções”, afirma Susana Caldeira.