Inspirada na cultura judaico-cristã, manda a tradição portuguesa celebrar a quadra natalícia, que cada ano se renova, como um tempo que se dá especialmente à família, aos outros, à paz. É um espaço assinalado de reencontro desejado entre todos, no respeito pela diferença, certamente, mas cada vez mais inscrito na responsabilidade colectiva que a construção do devir reclama. É, também, uma oportunidade renovada de reflexão, de reconciliação com a memória na Diáspora, com aqueles compatriotas que, longe do seu país e das suas famílias, vivem intensamente os efeitos da ausência, marcados pela entrega diária às jornadas de duro trabalho, mas mais indistintas regiões e empresas.
Mas esta celebração ocorre, agora, num tempo e num mundo composto de novas e ingentes perplexidades que colocam a todos as mais exigentes necessidades de concertação e solidariedade. Nesta circunstância, individual ou colectiva, a globalização das problemáticas, designadamente as questões sociais, torna a mobilização da Diáspora portuguesa mais oportuna conquanto ela possa constituir-se como uma base sólida para cooperar na procura de soluções diante das dificuldades e dos desafios.
Saúdo, por isso, o emprenho e o excelente trabalho social desenvolvido pela generalidade das associações das comunidades portuguesas cujo sucesso tem permitido a muitos o reencontro com a oportunidade de recomeçar ou o conforto da solidariedade. Sendo este um tempo de especiais dificuldades, num mundo a atravessar a mais grave crise económica de que há memória, Portugal não esquece os seus nacionais que vivem fora e a cujos percursos de vida mais difíceis junta os sinais de acompanhamento sempre que ele é mais necessário.
Saúdo os cooperantes, professores, militares, missionários e tantos compatriotas inseridos em organizações internacionais espalhadas pelo mundo, a quem dirijo uma palavra de gratidão pelo esforço pessoal e familiar, pelo insubstituível contributo que dão na construção da paz e na ajuda ao desenvolvimento que tanto prestigia Portugal e os portugueses.
Aos Jovens, que ultimamente procuram e encontram novas e diferentes oportunidades que o espaço da União Europeia – de que Portugal faz parte – permite e incentiva, quero dizer-lhes também que o país não os esquece, pelo contrário, acompanha-os, nomeadamente modernizando e dotando de mais qualificados instrumentos, em progresso constante, as estruturas consulares e diplomáticas de forma a melhor responder às novas exigências que os novos tempos transportam. Há, apesar de tudo, uma mensagem de esperança na sua saída com a expectativa do seu regresso, enriquecidos já de outras experiências que certamente colocarão ao serviço do país num futuro próximo.
O mestre Agostinho da Silva falava no mundo como algo que se vai esculpindo. Os portuguesa da Diáspora são conhecidos esculpidores desse mundo. Agora, com a globalização em mãos, há novas e importantes etapas pela frente, para além da inserção social, económica, cultural e política nos países de acolhimento. As emergentes modalidades de envolvimento económico, a urgente e incontornável internacionalização da economia nacional fazem recrudescer o desafio à constituição de uma frente alargada e organizada de Portugal nessas sociedades.
As comunidades portuguesas podem facilitar a comunicação de Portugal com o mundo, quer nos cenários da política internacional, quer na promoção das relações económicas e comerciais, apoiando a internacionalização de tecido empresarial português ou no intercâmbio de experiências altamente especializadas indispensáveis ao progresso das sociedades.
Neste novo contexto de relacionamento com os portugueses residentes no exterior, o Governo continuará a desenvolver esforços tendo em vista aproximar mais Portugal das comunidades portuguesas, designadamente através da crescente implementação e promoção da língua portuguesa, de programas económicos envolvendo os empresários da Diáspora, estreitando o relacionamento com os luso-eleitos, promovendo a aproximação com os cientistas, intelectuais e demais área de influência.
Com este espírito de confiança e de esperança no presente para a superação das dificuldades, desejo um Feliz Natal e formulo votos de que o ano de 2011 traga a todos paz e prosperidade.
António Braga