Paris, 15 dez (Lusa) – A supressão do Português nos concursos para duas universidades francesas de referência motivou o lançamento de uma petição pública na Internet, afirmaram hoje à Agência Lusa em Paris alguns dos promotores da iniciativa.
A petição pública pretende alertar para o projeto de supressão, a partir de 2012, do Português nos concursos da Escola Normal Superior (ENS) e da Escola Politécnica (EP), duas instituições de referência no ensino superior e na investigação científica em França.
A petição é assinada pelo presidente da Associação para o Desenvolvimento dos Estudos Portugueses, Brasileiros e da África e da Ásia Lusófonas (ADEPBA), Christophe Gonzalez, “e tem o apoio dos lusitanistas e hispanistas em várias universidades francesas”, afirmaram alguns dos signatários contactados hoje pela Lusa.
“É com estupefação que constatamos o desaparecimento da língua portuguesa tanto em LV1 (língua viva, nível 1) como no que toca a LV2, de resto simplesmente suprimidos”, lê-se na petição, endereçada aos diretores da ENS e da EP.
A supressão “atenta contra a credibilidade da língua portuguesa como instrumento de formação”, acusa a ADEPBA.
“Tudo foi feito pela calada”, constata uma professora portuguesa da Universidade Paris-3, signatária de uma primeira carta endereçada pela Sociedade de Hispanistas Franceses às direções da ENS e da EP e aos ministros da tutela.
“Pode ser o início de redução da língua portuguesa noutras instituições de ensino superior. Os concursos à ENP e à EP são realmente simbólicos, por serem duas das ‘grandes escolas’”, como são chamadas as universidades de elite em França, salienta a mesma docente.
A petição da ADEPBA refere que “a supressão da língua portuguesa nos concursos é tanto mais incompreensível na medida em que se trata de uma língua de grande comunicação internacional falada em cinco continentes”.
O presidente da ADEPBA recorda que o Português “é também uma grande língua de negócios entre a França e os países lusófonos” e refere a importância do Brasil, de Angola e de Portugal, “terceiro país em termos de exportações francesas e um dos principais parceiros comerciais” de França.
A concretizar-se a “reestruturação” dos currículos na ENS e na EP, segundo professores de diferentes universidades francesas hoje ouvidos pela Lusa, estas duas escolas retêm apenas três línguas europeias (Inglês, Alemão e Espanhol) e “fazem aparecer com grande força o Chinês ao lado do Árabe” entre as línguas em que os candidatos às duas escolas podem prestar provas.
Na petição pública da ADEPBA, é sublinhado que “quaisquer que sejam as motivações desta decisão – simples comodidade, economia, pedagogia, notação, etc. - , elas são dificilmente aceitáveis num estabelecimento onde também se joga o papel e o prestígio da França”.
A Lusa contactou a direção da ENS e da EP para obter um esclarecimento sobre a reestruturação curricular mas não obteve resposta em tempo útil de nenhuma das instituições.
A ENS e a EP foram fundadas em 1794, durante a Revolução Francesa. São dois centros de excelência e ocupam o topo do “ranking” das universidades francesas.