30 de dezembro de 2010

Lido no DN : Nasceram 254 mil bebés de uniões de facto em dez anos


Dados do INE mostram que 37 925 crianças nasceram fora do casamento em 2009, das quais 30 mil de casais que viviam juntos.

"Era mais importante para nós ter um filho do que casar." Raquel Rosa e Carlos Gonçalves vivem juntos há quatro anos, e há um foram pais de um menino. Guilherme é uma das 30 075 crianças que nasceram de uniões de facto em 2009, representando 30,2% do total de nascimentos. Entre 2000 e 2009, os casais em união de facto tiveram 254 734 filhos.

De acordo com os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), o número de crianças nascidas fora do casamento aumentou 15,9% desde 2000. Um aumento que deve continuar a registar-se nos próximos anos, defende o sociólogo da família Fausto Amaro.

Em relação ao total de nascimentos, o número de crianças nascidas fora do casamento representa já 38,1%. Isto significa que 37 925 dos bebés são filhos de casais em união de facto, de mães solteiras e de casos extraconjugais. Embora esta última situação seja "muito residual", explica Fausto Amaro.

Este aumento de natalidade fora do matrimónio está também relacionado com a diminuição do número de casamentos. No ano passado, oficializaram a sua relação 40 391 casais, quando em 2000 se registaram 63 752. O que representa uma diminuição de 36,6% do número de uniões quer civis quer religiosas.

Apesar desta quebra, o sociólogo do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP) considera que o casamento ainda é muito valorizado na sociedade portuguesa. "Embora as pessoas comecem por viver juntas e ter filhos, muitas acabam depois por casar." Prova disso é que "em muitos dos casamentos se vê que os dois já tinham a mesma morada".

Esta opção continua, assim, a fazer parte da vida dos portugueses porque "existe uma valorização do casamento como instituição por parte da sociedade e da família", acrescenta o especialista.

Uma valorização que o caso de Raquel Rosa confirma. "O facto de termos um filho não quer dizer que não venhamos a casar. A ideia de casar é a de ter uma festa com as pessoas que gostam de nós e de celebrar a nossa união e o nosso filho", conta a comercial de 28 anos.

Um acontecimento que seria aplaudido pela família. Raquel Rosa admite que a família já está mais habituada agora, embora no início tenha havido "mais pressão para casarmos". E a própria reconhece que "as pessoas acabam por se casar mais por uma questão cultural e por pressão da família do que pelos benefícios económicos".

Além destes motivos, Fausto Amaro aponta que as "pessoas sentem um maior sentimento de segurança quando estão casadas". Uma justificação dada por muitos casais em inquéritos realizados pelo sociólogo da família.

Todas estas razões levam Fausto Amaro a acreditar que apesar da tendência para que o número de filhos de casais em união de facto aumente, os matrimónios vão continuar a realizar-se. "Ao contrário dos países do Norte da Europa, os portugueses vão continuar a valorizar o casamento, mesmo depois de terem tido filhos. A prova disso é que mesmo os casais divorciados voltam a casar porque continuam a valorizar a família e o casamento", conclui.

No entanto, os dados revelam que não só o número de casamento tem vindo a diminuir como tem havido quebra nas uniões religiosas, especialmente as católicas.

Se em 2000 havia 41 331 casamentos católicos, no ano passado só foram à Igreja 17 451 casais. Já as uniões pelo civil têm vivido uma evolução oposta, confirmam os dados do INE. Há dez anos representavam 35,2% dos casamentos e em 2009 eram já 56,8%.