24 de janeiro de 2010

Lido no Diário de Noticias : Se for menino chama-se Rodrigo, se é menina a moda é chamar Maria

Rodrigo, João, Afonso, Maria, Beatriz e Ana foram os nomes mais populares de 2009. "Não me chateia nada haver muitos Afonsos." Ana foi mãe pela primeira vez há quase três meses e resolveu dar o nome Afonso ao filho, precisamente no ano em que este foi o terceiro mais escolhido dos portugueses. Mas o grande número de crianças com o mesmo nome do filho não a incomoda: "Chamo-me Ana e sempre tive mais umas sete na turma. Isso não me preocupa." Apesar do grande número de Afonsos, em 2009, estes foram ultrapassados pelos Rodrigos e Joões, em primeira e segunda escolha, respectivamente. Do lado das meninas, as preferências foram para Maria, Beatriz e Ana.

Os nomes mais populares do ano passado não são muito diferentes dos mais comuns em 2008. De facto, "os portugueses escolhem nomes muito parecidos", considera o antropólogo João Pina Cabral. Por outro lado, "as pessoas são conservadoras no que toca a escolher nomes diferentes", acrescenta.


Ainda assim, o co-organizador do livro "Nomes: Género, Etnicidade e Família" reconhece que a escolha dos nomes também está dependente de modas. "Nos anos 1980 e 1990 as pessoas foram muito influenciadas pelas telenovelas, por exemplo." Uma influência que deu ao País uma geração de Vanessas, Cátias, Sandros e Rubens.


Mas existem ainda outras explicações para a escolha e até recuperação de nomes menos usados. "Os nomes Rodrigo, João, Beatriz e Ana simbolizam uma tradição. Os Gonçalos, Pedros, Catarinas e Franciscas eram associados à aristocracia ligada ao período do antigo regime e a sua recuperação mostra uma intenção conservadora de consolidação identitária", analisa Pina Cabral.

Se é verdade que os portugueses têm uma lista reduzida de nomes que escolhem, também é certo que a escolha não é completamente livre. O Instituto dos Registos e do Notariado (IRN) tem uma lista de nomes que não são aceites, de acordo com a língua e cultura nacionais. Nesta lista constam apenas os nomes em que houve dúvidas e se indica se podem ou não ser utilizados.


Esta limitação na liberdade de escolha dos nomes é para Pina Cabral "um aspecto pouco democrático". O antropólogo mostra-se contra qualquer tipo de proibição, "mesmo quando pensamos que o Estado está a proteger as pessoas da escolha dos pais". "Está provado que elas se adaptam ao nome e aceitam", garante. Um desses casos é um jovem brasileiro que se chama Já Falei e que "usa o seu próprio nome com algum humor", conta João Pina Cabral. O nome foi escolhido pelo pai para mostrar que já não queria mais filhos, já que no Brasil a expressão "já falei" significa pôr um ponto final na conversa.


O índice de fecundidade vai voltar a descer em 2009, contrariando a ligeira subida que se tinha verificado entre 2007 e 2008. Inscreveram- -se 98 406 crianças nos registos civis de Portugal, menos 153 do que em 2008, o que significa que o contributo positivo dos imigrantes não chegou para evitar a descida. Os dados demográficos da população portuguesa ainda não são definitivos, mas tudo indica que os nascimentos vão diminuir. Em 2008 nasceram 104 594 bebés, quando em 2007 tinham sido 102 492, menos do que em 2006. O ano passado foi o primeiro a inverter a tendência de descida, em que 13% destas crianças tinham pelo menos um dos pais estrangeiro.