17 de junho de 2010

Lido no Público : Portugal quer exportar mais música

Chama-se Portuguese Music Export o projecto que representantes da GDA (cooperativa de Gestão dos Direitos dos Artistas) e da SPA (Sociedade Portuguesa de Autores) apresentaram ontem, em audiência, ao Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva. A ideia é criar um organismo que garanta a exportação e internacionalização da música portuguesa - "como já existe na maioria dos países europeus", sublinhou em declarações ao PÚBLICO Pedro Wallenstein, presidente da GDA.

A iniciativa parte das duas associações de gestão de direitos de autor, que já a apresentaram aos ministérios da Cultura e Economia e dos Negócios Estrangeiros, e despertou o interesse de Cavaco Silva, que no seu discurso no 25 de Abril defendeu a necessidade de apostar nas indústrias criativas como uma das vias de saída para a crise.

"Este modelo existe na maior parte dos países europeus e é financiado integralmente pelo orçamento de Estado", explicou ao PÚBLICO Tiago Faden, consultor para o projecto. O que a SPA e a GDA propõem para Portugal é um modelo misto, com algum apoio do Estado (sem esse envolvimento "o projecto não será viável", alertam), mas também financiamento das duas organizações de gestão dos direitos de autor, e ainda a captação de fundos europeus. "Temos tido a noção de que é preciso reinvestir parte dos direitos na própria actividade criativa", explica o responsável da GDA.

Orçamento de meio milhão

Que o modelo resulta, Wallenstein e Faden não têm dúvidas. "O gabinete francês foi criado há 20 anos e hoje tem sete escritórios espalhados pelo mundo, do Rio de Janeiro a Tóquio", diz Faden. Também os países nórdicos apostaram nesta via. A Noruega, por exemplo, criou em 2000 o Music Export Norway, e em 2008 abriu uma delegação em Londres. Espanha e Itália "estão a organizar-se nesse sentido". E existe ainda um European Music Office, uma organização-mãe a nível europeu.

O que a GDA e a SPA propõem é um organismo - com um orçamento anual de meio milhão de euros - que promova a exportação da música portuguesa apoiando digressões internacionais, a participação dos músicos em feiras, eventos e prémios, e a produção de conteúdos internacionais, nomeadamente vídeos. Um trabalho, diz Wallenstein, que pode, e deve, ser feito em coordenação com o AICEP (Agência para o Financiamento e Comércio Externo de Portugal, do Ministério da Economia).

Segundo um estudo da SPA e da GDA, os concertos de música portuguesa no estrangeiro (41 por cento dos quais são de fado) aumentaram de 400 em 2006 para mais de 600 em 2007, tendo sofrido uma quebra de cinco por cento em 2008 e outra maior (mas ainda por quantificar; prevê-se que superior a 15 por cento) em 2009 (sobretudo em Espanha e no Benelux, que representam quase 50 por cento do total de espectáculos). O estudo conclui também que há uma "fraca penetração em três dos principais mercados mundiais: EUA, Inglaterra e Alemanha". "O mercado CPLP é residual e inexplorado."