17 de setembro de 2011

Língua: Novo ritmo escolar em França preocupa coordenação do ensino do Português

Paris, 17 set (Lusa) – A anunciada alteração do ritmo escolar em França, com reforço dos dias letivos, é “motivo de apreensão” para os professores de Português, afirmou hoje a respetiva coordenadora à Agência Lusa em Paris.

“O problema é que será cada vez mais difícil conseguir adaptar as horas de Português à mudança de ritmo escolar anunciada pelo Ministério da Educação francês”, afirmou Adelaide Cristóvão, coordenadora geral do ensino do Português em França.

Só cerca de um quarto dos cursos de Português em França são lecionados em horário integrado. A situação mais comum é que o Português é lecionado em horários diferidos, no final da tarde e nos dias em que as escolas estão fechadas, origem aliás de outro tipo de dificuldades para as crianças que pretendem aprender a língua portuguesa.

Por enquanto, “estamos num compasso administrativo” de início de ano letivo para os cursos diferidos, entre a chegada dos professores e a sua apresentação nas respetivas inspeções de ensino, uma formalidade essencial para poderem iniciar o ano letivo.

Os cursos integrados começaram ao mesmo tempo que a generalidade das escolas do país, a 05 de setembro, abertura oficial do ano letivo de 2011-2012 em França, acrescentou Adelaide Cristóvão.

O motivo de apreensão adicional prende-se com a anunciada alteração de dias e de horários letivos para todas as escolas francesas.

Até agora, os alunos em França não tinham aulas à quarta-feira e, nos outros dias de semana, as aulas terminam às 16:30, o que possibilita o início de cursos de Português, em diferentes regimes, cerca das 17:00.

Com o aumento do ritmo escolar, que introduzirá também aulas à quarta-feira, intercaladas, as aulas terminarão mais cedo, o que coloca um problema de “como preencher horas ou tempos vazios antes das aulas de Português”.

O problema torna-se mais agudo quando se sabe que muitos dos alunos que frequentam Português têm de deslocar-se para uma escola diferente, muitas vezes noutra localidade, para ter a sua aula de hora e meia de “língua e cultura de origem”, ou ELCO.

Adelaide Cristóvão admitiu também que “têm aumentado as dificuldades de abertura de escolas à quarta-feira e aos sábados” para os cursos de Português.

“São problemas difíceis de gerir”, declarou.

“Por um lado, as preocupações de segurança são maiores e há mais entraves administrativos para que um professor fique ‘responsável’ por uma escola em dias em que não está o pessoal normal e em que é preciso abrir instalações de propósito”, explicou a coordenadora do ensino do Português.

“Por outro, a abertura das escolas para os cursos, à quarta e ao sábado, acarreta custos de pessoal e de instalações (aquecimento, etc.) que as coletividades territoriais (equivalente às autarquias) têm cada vez mais reservas em assumir”, segundo Adelaide Cristóvão.

A coordenadora do ensino sublinha também que “como é sabido, o Português não é muitas vezes acarinhado pelas instituições francesas e continua a ser visto como um ‘gueto’ da emigração”, apesar de oficialmente o ELCO se destinar a qualquer criança, com ou sem origem portuguesa.

Adelaide Cristóvão acrescenta que “é uma verdade que as línguas têm o peso económico dos seus países”, o que não beneficia Portugal.

No ano letivo anterior, existiam 11.300 alunos de ELCO em 607 escolas apoiadas pelo Estado português (que fornece os professores), quase 3.000 em Português como ”Língua Viva” em 42 escolas, cerca de mil alunos em 38 associações apoiadas por Portugal (em geral em zonas geográficas não abrangidas pelo regime ELCO) e 870 nas secções internacionais de uma dezena de liceus e de escolas primárias.